Fotoclube Porto-alegrense

[Artigo] “As duas faces de Eva”, exposição fotográfica de Bia Donelli e Anelise Ferreira, por Rogério Soares.

As duas faces de Eva”, exposição fotográfica de Bia Donelli e Anelise Ferreira, por Rogério Soares.

“ Um sexto sentido maior que a razão”. Rita Lee

Exposição fotográfica realizada na Galeria Carlinhos Rodrigues, de 28 de junho a 08 de agosto.

Antes de entendê-la simplesmente como uma bem cuidada exposição, a considero como um celebrado encontro não somente entre duas “Evas” competentes fotógrafas, mas sobretudo sobre dois olhares, que mesmo sendo distintos, tratam de recuperar através de belas imagens a plenitude da condição feminina. Preliminarmente devo salientar meu particular agrado não só pela escolha do tema, mas pela maneira como visualmente – significantemente ele foi tratado.
A escolha da canção – “ É cor de Rosa Choque ” de Rita Lee, aliado a uma certeira expografia (executada por elas próprias) dá com toda certeza o clima e o tom da abordagem sobre o feminino.

E sobre Eva ?

Eva significa a sensibilidade do ser humano e seu elemento irracional. Também simboliza o elemento feminino no homem, pois nele o espírito é masculino e alma é feminina. Então …
As duas instalações idealizadas por Bia e Anelise apresentam meticulosas composições, onde escolhas técnicas como enquadramento, iluminação, efeitos de edição e direção de modelos por exemplo, acabam por produzir uma série de elementos significantes, onde mais do que a figura da mulher, mas sua condição e espaço social são sutilmente apresentados.

Sobre a plástica.

Elegantemente arrumados em fundo brancos e vermelhos, os diversos quadros vampirizam o caráter simbólico dessas cores,
então vejamos:

A cor branca em algumas culturas remete ao feminino. Lembram da “Branca de Neve” ? Mas o branco sozinho torna-se fraco e somente ganha força quando acompanhado da cor vermelha. “BINGO” GURIAS. Naturalmente sentida, a cor vermelha protagoniza a narrativa visual de ambos trabalhos.
Sobre isso, o simbolismo do vermelho está marcado por duas vivências elementares: o vermelho fogo e o vermelho sangue sempre permeando as questões existenciais do ser humano.
Já a cor rosa, mesmo que discretamente encontrada em alguns quadros, por sua vez convoca ou dá vazão ao que é terno, gentil e inocente.

Em contrapartida, as imagens onde prevalecem contrastes e dualidades cromáticas como nas fotos em que por exemplo, aparecem uma modelo albina com fundo escuro e uma rosa clara frente ao fundo escuro. Em ambos os casos, com extrema habilidade estas incitam a visão.

Sobre as fotógrafas

Objetiva, Bia através de seus inúmeros retratos, revela um olhar preocupado com aspecto documental e entrega suas “versões de mulher” de pronto, de forma direta. Nela o feminino assim exposto encontra-se pronto ou posto a nossa primeira percepção. Encenadas, as fotografias de Bia recuperam as diversas instâncias do ser e se fazer mulher. Neste sentido, conceitos como a maternidade, sensualidade, elegância e mistério pelo conjunto das fotos podem ser analisados. A tempo, as transparências utilizadas por Bia pontuam com graça o emprego da luz… e não esqueçamos que no universo simbólico, elas requisitam a ideia de segredo ou mistério, pois parecem sempre estar prontas a uma aguardada revelação. Bia também investe no lúdico, ao aliar à escolha do cenário à direção da cena. Da mesma forma a composição das poses, alinhadas as expressões faciais (modelos com olhos fechados e ou interagindo com elementos de cena) instituem um tom teatral a seu trabalho. Neste sentido, e em especial, a transparência da água – elemento cósmico e primordial da fertilidade e que vem convocar por completo a essência feminina.

Num percurso contrário, Anelise mergulha num universo declaradamente intimista. De uma forma muito particular, sua câmera não procura a mulher como referente. Parece não haver interesse em nomear ou identificar determinado extrato ou tipo de pessoa. Em meu entendimento, as imagens de Ane, num primeiro momento, não pretendem apresentar o outro, e sim ela mesma. Justifico: Suas fotografias se entregam ao nosso olhar não para serem vistas, para serem de fato “sentidas”. Suas flores e rosas, em sua profunda solidão, como por encanto, transformam-se em todas as mulheres do mundo.
Assim, numa refinada composição impressionista, a significância de suas formas e cores, dá as mesmas um delicado poder,,, um poder somente encontrado na essência e infinita beleza de toda mulher. Também devo salientar que as fotografias monocromáticas das flores e rosas de Anelise em muito lembram as imagens em “quimigramas” produzidas no século 19.

Concluindo

Em união, o trabalho realizado por Anelise e Bia mais uma vez vem comprovar que independentemente do tema escolhido, a Fotografia, através do particular talento de seus autores(as) é capaz de oferecer inúmeras e prodigiosas leituras, basta-nos apreciá-las com todo o prazer.

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